Em uma campanha iniciada em 2014, pelo Centro de Valorização da Vida (CVV) em conjunto com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), o Setembro Amarelo foi pensado exclusivamente para conscientizar a população brasileira sobre a saúde mental, com o intuito de prevenir suicídios entre todas as idades.
A ideia da campanha é promover discussões acerca de questões que envolvem esse tema, a fim de ajudar as pessoas a reconhecerem sintomas tanto em si mesmas quanto no próximo, como em familiares e amigos.
O nono mês do calendário foi escolhido para a campanha pois o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio acontece em 10 de setembro. Nessa data, com o reconhecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS), acontecem inúmeras ações sociais que visam ao estímulo de cuidados da saúde mental.
Apesar de não existir uma lei federal que reconheça o mês de setembro como um período para conscientizar os brasileiros sobre a importância de cuidar da saúde mental, alguns estados decidiram buscar essa legalização constitucional de forma local, como é o caso de Santa Catarina, entre outros.
Nesse contexto, é possível notar que existe uma preocupação nacional em dedicar esses 30 dias para intensificar a promoção do bem-estar mental, levando o assunto ao centro de discussões.
Assim, durante esse período, importantes patrimônios públicos são iluminados pela cor amarela, como o Cristo Redentor (Rio de Janeiro), a Câmara dos Deputados (Brasília), grandes estádios de futebol, entre outros espaços.
Uma campanha de tamanha importância não pode ser ignorada pelas escolas, que devem desempenhar um papel central em motivar discussões sobre o tema e cuidar da saúde mental de seus alunos.
Tendo isso em consideração, preparamos este artigo para explicar como um assunto tão delicado pode ser abordado no ambiente escolar.
Por que a escola deve trabalhar o Setembro Amarelo?
Como levar a campanha do Setembro Amarelo para o ambiente escolar?
Sinais que indicam que um aluno precisa de ajuda
Setembro Amarelo: não espere meses para falar de saúde mental na escola
Por que a escola deve trabalhar o Setembro Amarelo?
Aos 19 anos, a atleta de ginástica artística Simone Biles, dos Estados Unidos, subiu ao pódio cinco vezes nas Olimpíadas do Rio de Janeiro de 2016, sendo três delas para receber medalha de ouro.
Tão jovem, Biles consolidou-se como uma das atletas mais relevantes da nova geração, como símbolo de perseverança e esforço, não só para atletas, mas para as pessoas em geral, especialmente os adolescentes.
Contudo, em 2021, aos 24 anos de idade e já respeitada pelo mundo todo, Simone Biles não aguentou a pressão e abandonou a competição mundial em Tóquio, Japão, alegando estar com a saúde mental comprometida.
A atleta publicou frases para justificar sua decisão em suas páginas nas redes sociais: “saúde mental é saúde física” e “eu priorizo saúde mental”, declarações que foram feitas à mídia mundial também.
Na mesma competição, a tenista japonesa Naomi Osaka, de 23 anos, uma das favoritas à medalha de ouro, perdeu sua partida de classificação e revelou estar sofrendo com depressão há três anos.
Os exemplos de Simone Biles e Naomi Osaka, jovens atletas, aparentemente saudáveis, se somam às preocupantes estatísticas da Organização Mundial da Saúde.
Dados da OMS mostram que aproximadamente um milhão de pessoas cometem suicídio a cada ano, e a mesma instituição coloca o Brasil em quarto lugar em mortes por suicídio entre jovens de 15 a 29 anos.
Todas essas informações exemplificam muito bem a importância de trabalhar esse assunto com os adolescentes dentro das escolas.
Como é em sala de aula que a maioria deles passam parte considerável de seu tempo, é importante que sua gestão escolar esteja preparada para entender seus sentimentos e identificar alguns sintomas de doenças mentais.
Isso é essencial porque, nessa idade de transformações físicas e emocionais, os alunos precisam conhecer mais sobre sua saúde mental e os problemas mais comuns que acometem essa área.
- Leia mais: Como sua escola pode ajudar alunos com TDAH.
Também é preciso levar em consideração que muitos alunos não conversam sobre isso em casa. Então, disponibilizar um local de confiança e autoridade, como a escola, para falar sobre saúde mental e habilidades socioemocionais, ajudará inúmeros estudantes que precisam desse contato.
O Setembro Amarelo é uma oportunidade excelente para levar o assunto para o centro das discussões em sua escola.
Como levar a campanha do Setembro Amarelo para o ambiente escolar?
Há várias formas de abordar o Setembro Amarelo nas escolas. Para tanto, é importante focar no intuito da campanha, como apresentado pelo psiquiatra Valdir Campos: “desconstruir estigmas e tabus em relação ao suicídio, além de criar grupos de mútua ajuda e outras medidas para aumentar os laços sociais na comunidade”.
Durante esse período, a gestão escolar deve convidar especialistas no assunto, como psicólogos e psiquiatras, para conduzir conversas e reflexões sobre o tema e propiciar um ambiente que preze pela saúde mental de seus alunos, transparecendo um senso de comunidade.
Isso tudo ajudará o aluno a desenvolver um sentimento de pertencimento à escola e a saber que pode buscar a ajuda que precisa em um momento de necessidade.
Além das palestras com convidados, o coordenador, ou até mesmo o diretor escolar, pode desenvolver outras atividades, como:
- Organizar rodas de conversa entre alunos de diversas turmas.
- Espalhar cartazes informativos pela escola, os quais podem ser desenvolvidos pelos alunos com a ajuda de professores.
- Levar o assunto para a sala de aula de forma extracurricular, em conjunto com professores de Biologia e Ciências ou até mesmo de outras disciplinas, por exemplo.
- Explorar livros, filmes e outros materiais culturais que tratem do assunto.
- Incentivar o adolescente a procurar ajuda profissional.
- Encaminhar o estudante para acompanhamento profissional em casos mais sérios.
Enfim, a gestão educacional tem uma gama de opções para levar o assunto até a escola, mas é importante contar com toda a equipe para ajudar a desenvolver esses momentos.
É válido destacar que, de acordo com a OMS, 32 pessoas se suicidam por dia no Brasil, uma média maior do que a taxa de mortalidade por doenças como o câncer e a AIDS, por exemplo. A instituição revela, ainda, que 9 entre 10 casos podem ser evitados.
Nesse ponto, a atuação da escola é fundamental. Com acolhimento, conversas sobre o assunto e orientação, todas as instituições de ensino podem ajudar a reduzir essas estatísticas preocupantes.
Sinais que indicam que um aluno precisa de ajuda
É muito comum que nem mesmo as pessoas que são acometidas pelos distúrbios mentais consigam identificar as doenças, especialmente depressão, bipolaridade e, a mais frequente, ansiedade.
Sendo assim, é um papel da gestão escolar, especialmente por meio de coordenadores e profissionais capacitados, reconhecer alguns sintomas para manter os alunos protegidos, bem como passar instruções e treinamentos para que a equipe como um todo também seja capaz de identificar tais comportamentos.
Para tanto, alguns comportamentos devem ser observados de perto. Entre eles, podemos destacar:
- Perda de interesse nas aulas e desempenho abaixo da média por parte do aluno.
- Queda do desempenho acadêmico para estudantes com médias altas.
- Evasão escolar ou faltas frequentes e injustificadas.
- Isolamento social enquanto o estudante está na escola, especialmente na sala de aula.
- Atividades escolares não realizadas com frequência.
- Falta de participação em eventos da escola.
- Assuntos tristes, negativos ou beligerantes.
- Sonolência nas aulas, pois isso quer dizer que ele pode estar sofrendo de insônia, que é um sintoma ligado a inúmeros transtornos mentais.
- Desempenho alto nas aulas, mas baixo nas avaliações, o que pode ser sinal de ansiedade.
Enfim, há diversos outros comportamentos que exigem atenção. Para ajudar nesse processo, é importante que a equipe de coordenação pedagógica mantenha uma comunicação constante com os professores, pois são eles que têm mais contato com os alunos e podem identificar os possíveis casos de transtornos mentais.
Em casos em que a coordenação ou a direção escolar conseguem reconhecer sinais que possam ser consequência de um distúrbio psicológico, os pais e responsáveis do aluno precisam ser notificados para que a ajuda profissional seja acionada imediatamente.
Leia mais: Como ajudar os adolescentes a construir um projeto de vida?
Setembro Amarelo: não espere meses para falar de saúde mental na escola
Dados da OMS apontam que, se juntar todos os países do mundo, houve uma queda de 10% nas mortes por suicídio nos últimos seis anos. Porém, na contramão desse dado global, o Brasil apresentou um aumento de 7% no mesmo índice.
Para ajudar a reverter esse cenário, as escolas devem assumir o compromisso de quebrar tabus sobre as doenças mentais durante todo o ano letivo e não apenas no período de Setembro Amarelo.
Além de espalhar informações relevantes a todos os estudantes, pais e responsáveis, a escola precisa se manter atenta à prática de bullying no ambiente escolar.
De acordo com um levantamento publicado no Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, as crianças e os jovens que são vítimas de bullying estão três vezes mais propensos ao suicídio.
Nesse sentido, a escola precisa adotar uma postura ativa contra o bullying e demais situações que podem mexer com o psicológico dos alunos — como a pressão para provas e vestibulares, a violência verbal, os preconceitos, o abuso de autoridade, entre outras — o ano todo, a fim de promover um ambiente escolar agradável e saudável, tanto física quanto mentalmente.
Antes de concluir, é interessante trazer mais um acontecimento das Olimpíadas de Tóquio, evento que colocou o debate sobre saúde mental sob holofotes recentemente.
A brasileira Rebeca Andrade, ginasta e campeã mundial, fez um agradecimento especial à sua psicóloga, que, de acordo com a atleta, foi essencial para a conquista de suas medalhas, justamente por ajudá-la com a preparação mental para os jogos.
A partir do momento em que a escola começar a trabalhar a saúde mental em sala de aula, a narrativa de jovens que tiveram a depressão e a ansiedade como obstáculos podem ganhar um novo desfecho de sucesso, como a de Rebeca.
Por isso, é sempre bom relembrar a fala de José Pacheco, grande educador e pedagogo português, defensor da gestão educacional democrática: “Escola não é um edifício, escola são pessoas”.
Portanto, levar a saúde mental a sério no Setembro Amarelo, e em todos os outros meses, é um passo importante para que a sua escola seja cada vez mais humana.
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