Durante o último ano, a pandemia trouxe muitos desafios técnicos e pedagógicos para as escolas, principalmente com as aulas a distância e a adaptação ao ensino híbrido.
Porém, não são só as dificuldades relacionadas às práticas pedagógicas e novas metodologias que merecem atenção da gestão escolar. O aspecto emocional da equipe também é muito importante para que o trabalho possa ser realizado de maneira adequada.
Afinal, a pandemia que estamos vivendo acelerou e intensificou alguns reflexos da sociedade pós-moderna, principalmente o nível de preocupações, responsabilidades e incertezas dentro do ambiente escolar. O resultado disso é uma equipe de professores e gestores escolares exausta e estressada, com muitos profissionais tendo que lidar com problemas como ansiedade e depressão.
A síndrome de burnout — caracterizada justamente pelo estado constante de exaustão, irritabilidade, apatia, entre diversos outros sintomas — é outra “companhia” frequente dos profissionais da educação nestes tempos. E isso também é sentido pelos alunos, seus pais e responsáveis.
Por isso, hoje, são mais importantes do que nunca os conceitos de inteligência emocional e mindfulness na gestão escolar.
Você sabe o que essas expressões significam?
Neste artigo, vamos falar sobre elas e como essas práticas podem ser implementadas para impactar positivamente o ambiente da sua instituição de ensino.
O que é inteligência emocional?
O que é mindfulness?
Como cultivar essas práticas na gestão escolar?
Problemas psicológicos na educação básica
O que é inteligência emocional?
O psicólogo norte-americano Daniel Goleman apresentou esse conceito no seu livro intitulado Inteligência emocional. Na obra, ele busca descrever a habilidade que cada indivíduo tem de identificar seus sentimentos e emoções.
À primeira vista, isso pode parecer algo banal. Contudo, na prática, reconhecer as próprias emoções pode ser extremamente complexo. Imagine quantos sentimentos uma pessoa pode sentir em um só dia, ainda mais quando eles se misturam.
No caso dos professores e gestores escolares na situação atual, por exemplo, podemos identificar: medo, angústia, cansaço, por vezes tristeza, frustração, entre tantos outros.
A inteligência emocional é o que permitirá que cada pessoa reconheça seus sentimentos e saiba lidar com eles da melhor forma possível. Além de trabalhar a saúde mental, essa habilidade é essencial para o cultivo de bons relacionamentos no âmbito pessoal e profissional.
Assim, dentro da sua instituição de ensino, saber controlar a inteligência emocional é fundamental para garantir um bom relacionamento com alunos e seus pais e responsáveis.
Segundo Goleman, são cinco pilares que sustentam a inteligência emocional:
1. Conhecer as próprias emoções
Para começar a desenvolver a inteligência emocional, o primeiro passo é observar e analisar o próprio comportamento e os sentimentos, tanto no momento em que eles surgem quanto depois, refletindo sobre o que desencadeou essa reação.
Conhecer as próprias emoções inclui saber como elas surgiram e como impactam o seu cotidiano e os relacionamentos com as pessoas ao seu redor.
2. Controlar as próprias emoções
O segundo passo é controlar os impulsos que vêm com cada situação e o surgimento de cada sentimento a partir disso.
As melhores recomendações para trabalhar essa prática são atividades físicas em geral e, em casos em que o indivíduo encontra mais dificuldades, a terapia comportamental. A ideia não é reprimir os sentimentos, mas sim aprender a lidar com eles, encontrando um equilíbrio.
Isso é essencial para gestores escolares e professores da educação básica que lidam diariamente com um grande número de crianças e adolescentes.
3. Automotivação
Para desenvolver a automotivação é preciso compreender que a vida apresenta desafios de tempos em tempos e que nem sempre a motivação para superá-los aparecerá de alguém ou de um fator externo.
Por isso, ter em mente quais são seus objetivos e manter o foco são as principais ferramentas para permanecer motivado quando algum obstáculo aparecer, sabendo lidar com as frustrações e pressões que vêm com ele.
4. Empatia
O conceito de empatia é a habilidade de se colocar no lugar do outro ao se relacionar com ele. Entre os membros de uma equipe isso é fundamental, especialmente se levar em conta todas as dificuldades profissionais que as escolas estão passando, bem como as emocionais relativas a cada indivíduo.
Além disso, ser empático é essencial para a comunicação com alunos e responsáveis, principalmente em momentos como os que estamos vivendo hoje.
O psicólogo Daniel Goleman acredita que o autoconhecimento é um dos principais caminhos para se desenvolver a empatia, pois o entendimento sobre si mesmo auxilia na identificação e compreensão de expressões e sentimentos semelhantes no outro.
5. Boas relações interpessoais
A união de todas essas práticas culmina numa melhoria das relações interpessoais, pois, aplicando o conceito de empatia e controlando os próprios sentimentos e comportamentos, é possível responder melhor aos estímulos externos vindos dos colegas ou de situações que fogem do nosso controle.
O que é mindfulness?
Basicamente, chama-se mindfulness o conjunto de técnicas utilizadas para que um indivíduo consiga focar no presente, sem deixar que situações passadas e encargos futuros tomem conta do pensamento, tirando o foco ou até dando início a uma crise de ansiedade.
Para professores, coordenadores pedagógicos, gestores escolares e demais funcionários de uma instituição de ensino, o mindfulness pode ser uma ferramenta poderosa para elevar o foco e a concentração, diminuindo os níveis de estresse ocasionados pelo dia a dia escolar.
Essa técnica ajuda, inclusive, a lidar com alunos durante a aula ou mesmo em situações de insubordinação.
Algumas práticas são famosas por auxiliar nessa jornada rumo à atenção plena ao momento presente. Conheça-as a seguir:
Controle da respiração
Usar o ritmo da respiração a seu favor é fundamental para acalmar a mente e focar no agora. A melhor parte é que, por ser um ato inconsciente, a partir do momento em que a respiração é treinada, ela é incorporada e se torna uma ação automática nas situações de estresse.
Essa técnica consiste na respiração em 4 tempos, muito utilizada nas práticas de meditação e yoga. Nela, a inspiração deve durar quatro segundos, seguidos por mais quatro segundos com o ar preso dentro dos pulmões.
A seguir, o ato de expirar também deve durar quatro segundos. Depois, o indivíduo deve aguardar o mesmo tempo sem ar nos pulmões antes de começar a próxima inspiração. Isso deve ser feito até a sensação de calma voltar.
Meditação
Ela não poderia ficar de fora dessa lista. A meditação é pautada especialmente no mindfulness como forma de autoconhecimento, melhoria da concentração e atenção ao presente. A melhor parte é que o ato de meditar é bem flexível, podendo ser realizado pela manhã, antes de dormir, ou durante qualquer situação que esteja gerando ansiedade.
Além disso, o tempo pode variar. Para os iniciantes, muitas vezes, cinco minutos é um bom tempo para começar. À medida que vai se adquirindo prática, a duração da meditação vai crescendo gradativamente conforme a necessidade de cada um. Atualmente, existem diversos aplicativos pagos e gratuitos de meditação guiada, muito interessantes para um primeiro contato com essa técnica.
Eliminar distrações
As principais culpadas pela perda de foco e o início de um fluxo de pensamento caótico são as distrações. Uma notificação que chegou no celular, um telefonema, ou ainda prioridades que foram deixadas para depois.
Tudo isso acaba gerando distrações que podem te tirar do presente, favorecendo a procrastinação e a preocupação com coisas que não deveriam ser o foco naquele momento.
É importante se observar e perceber quais são os fatores que te distraem para, então, evitá-los. Por exemplo: ler os e-mails somente em horários específicos, colocar o celular no silencioso durante o trabalho, buscar um local que seja silencioso para organizar o planejamento escolar, e muito mais. Com isso, focar no agora será bem mais fácil.
Se distrair é normal do ser humano. Nosso cérebro está em constante funcionamento e é impossível simplesmente parar de pensar. O mindfulness busca formas de controlar a atenção, trazendo-a para o presente e direcionando os pensamentos para o fato de que o aqui e o agora são mais importantes.
Como cultivar essas práticas na gestão escolar?
Agora que já tratamos sobre o que é inteligência emocional e mindfulness, e mostramos formas de como trabalhar isso individualmente, vamos falar sobre como levar essas técnicas para o ambiente escolar.
Dissemine informações e incentive o diálogo
Antes de colocar tudo isso em prática, é preciso que a equipe entenda esse processo. Afinal, estamos falando sobre conceitos que são desconhecidos por muita gente.
Começar a abordar esse assunto com os colaboradores a partir dos meios de comunicação internos,falando de seus benefícios e compartilhando artigos, vídeos e demais conteúdos acerca dessa temática, pode ser uma forma de iniciar a educação da equipe nesse tema.
Isso ainda dá a oportunidade para que todos possam opinar sobre o assunto, iniciando um diálogo que pode expor fragilidades e necessidades dessas pessoas dentro do ambiente de trabalho.
Com o passar do tempo, indagações também são muito bem-vindas para saber se todos estão dispostos a se aprofundar nessas questões, trazendo-as para a realidade da escola.
“Sobre esse artigo que compartilhei no grupo, o que vocês acham? Acreditam que mais inteligência emocional e mindfulness podem amenizar de alguma forma a pressão que estamos passando com a realidade da nossa instituição?”
Esse é um exemplo de como aproximar-se sutilmente do assunto, para abordá-lo sem que pareça uma cobrança da gestão escolar e ainda avaliar o potencial de adesão dessa iniciativa.
Promova encontros com atividades direcionadas
Uma boa ideia para reforçar a adesão é chamar um especialista na área para conversar com a equipe, mesmo que em uma reunião online.
Além de aprofundar as informações e tirar eventuais dúvidas, o especialista pode realizar uma atividade dirigida simples para ensinar técnicas básicas para: identificar e controlar os sentimentos, manter o controle da respiração e aumentar o foco no presente.
Incentive uma cultura de empatia e acolhimento
O melhor de levar todos esses conhecimentos para dentro da escola é que a jornada pela maturidade emocional passa a ser coletiva.
Portanto, incentive uma postura acolhedora por parte de todos, para que os profissionais se sintam apoiados e compreendidos sempre que um problema aparecer. Qualquer obstáculo profissional é melhor superado quando colaborador e instituição se unem.
Problemas psicológicos na educação básica
As técnicas que trabalham a Inteligência Emocional e o mindfulness são muito válidas para serem aplicadas no dia a dia e ajudam no alívio de sensações como ansiedade e estresse.
Mas é muito importante salientar que ansiedade patológica e depressão (questões enfrentadas por muitos professores e gestores escolares) devem ser diagnosticadas e tratadas com profissionais especializados, como psicólogos, psicoterapeutas e psiquiatras.
Além disso, é fundamental avaliar essas questões entre os seus alunos, que também podem ser seriamente afetados. Para tanto, sua gestão escolar deve buscar uma comunicação clara e direta com eles.
Preparamos um eBook que pode te ajudar com isso. Confira: