Equipes escolares precisam entender o que causa problemas de saúde mental na escola e como superar esses desafios. Entenda quais práticas aplicar em sua escola.
Um dos grandes desafios da nossa geração é a saúde mental. Segundo o relatório global World Mental Health Day 2024, ela é vista por 54% dos brasileiros como o principal problema de saúde enfrentado no país.
Além disso, 62% das pessoas entrevistadas afirmaram ter se sentido tão estressadas que isso impactou sua vida diária — e esse impacto é maior nas gerações mais jovens.
Problemas de saúde mental atrapalham a rotina, o bem-estar e a vida em sociedade — e podem levar a situações extremas. Segundo estudo da Organização Mundial da Saúde, mais de 720.000 pessoas morrem anualmente por suicídio, tornando essa a terceira principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
Já uma pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indica que houve um crescimento nesse número macabro entre a idade de 10 a 19 anos, o que reforça a necessidade de cuidar da saúde mental na adolescência.
E não é para menos. Ainda enfrentamos as cicatrizes da pandemia de covid-19, ao mesmo tempo em que lidamos com novas pressões, como as redes sociais e a insegurança do futuro.
Esse cenário preocupante destaca a importância da saúde mental na escola, e é desse tema que vamos tratar nos próximos parágrafos. Confira:
Por que é tão importante cuidar da saúde mental dos alunos?
A escola, um dos lugares em que os alunos mais passam seu tempo, além de ser um espaço de aprendizado, é, também, um ambiente de desenvolvimento, autoconhecimento e socialização. É nesse meio que os estudantes descobrem mais sobre si, os outros e a sociedade.
Nesse espaço de descobertas, crescer e deparar-se com novas experiências e cobranças pode não ser tarefa fácil, ainda mais na adolescência, que é um período de muitas transformações físicas e mentais.
Essas mudanças podem acabar gerando uma carga emocional muito grande, tanto para crianças quanto para adolescentes, o que acaba afetando a saúde mental.
Isso se acentua ainda mais com o uso intensivo das redes sociais e da internet, que ocupam cada vez mais espaço na vida de seus alunos.
Assim, temas como depressão, ansiedade, solidão e baixa autoestima são parte do desenvolvimento de muitas de nossas crianças — e muitas vezes esses problemas não são diagnosticados adequadamente, ou sequer identificados.
🔎 Leia mais: Tipos de alunos: como lidar com os diferentes comportamentos em sala de aula?
Nisso, a escola acaba sendo um espaço importante, onde os alunos podem ter os primeiros contatos com questões da educação socioemocional e cuidados básicos com a saúde mental.
O ambiente escolar é ótimo para observar os comportamentos de crianças e adolescentes, porque é o local onde os estudantes são colocados em situações de socialização quase que constantemente. Além disso, o desempenho acadêmico serve como um termômetro para indicar que algo está errado.
Mas, para lidar com esse tipo de situações, é essencial ter uma gestão educacional realmente preparada. Por isso, continue sua leitura e saiba mais sobre como trabalhar a saúde mental dos alunos.
A importância de cuidar da saúde mental dos professores
Os alunos não são os únicos que precisam cuidar da saúde mental. Uma pesquisa realizada pela Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho) aponta que, entre 2018 e 2023, os transtornos mentais tornaram-se o principal motivo de afastamento dos professores da sala de aula.
Já uma pesquisa do Instituto Península, de 2022, indica que mais de 84% dos professores brasileiros estão exaustos emocionalmente.
Para saber mais sobre como cuidar da saúde mental dos professores, confira: Socioemocional na escola e saúde mental dos professores: por que sua equipe precisa de apoio agora?
É importante também acompanhar a legislação sobre o tema. Leia mais aqui: Saúde mental dos professores: o que diz a nova lei e como aplicar na escola.
Quais são os principais desafios para a saúde mental na escola?
O primeiro passo para cuidar da saúde mental dos alunos é compreender a origem dos problemas. Por isso, organizamos aqui os principais desafios que seus estudantes podem enfrentar.
Desafios de socialização
Já mencionamos neste texto como a escola é o principal espaço de socialização para os estudantes. Ao mesmo tempo em que isso é incrível, também pode ser um desafio sério para alunos mais tímidos, ou com outros problemas de socialização.
Os seres humanos são uma espécie gregária, com necessidade de socialização e pertencimento. Mas na adolescência, o entrosamento pode ser realmente difícil para alguns jovens, e isso impacta diretamente sua saúde mental.
Esse momento tende a ser ainda mais desafiador para alunos que tenham algum outro desafio, como Transtorno do Espectro Autista e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) .
🔎 Leia mais: Como posicionar sua escola em relação aos problemas sociais?
Bullying
O bullying é outro problema sério no ambiente escolar, com agressões recorrentes, constantes, intimidadoras e constrangedoras contra alunos específicos.
Agressões praticamente diárias acabam tendo um impacto muito grande na saúde mental dos alunos, e o problema é intensificado pela nossa necessidade de pertencimento. Isso porque um estudante que sofre bullying tende a acabar excluído do grupo social.
E a situação é ainda pior com o cyberbullying, que ocorre quando as agressões atravessam os muros da escola e perseguem o aluno onde quer que ele esteja, por meio de sua vivência online, nas redes sociais.
🔎 Leia mais: Violência na escola: combate, prevenção e segurança.
Celulares e redes sociais
Além do cyberbullying, que já mencionamos, a internet e os dispositivos móveis têm outros impactos na saúde mental dos alunos.
De fato, segundo a pesquisa Índice de Confiança Digital (ICD), realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), 41% dos jovens participantes afirmaram sentirem-se ansiosos, tristes e até depressivos após usarem as redes sociais.
O problema envolve desafios de socialização nesse ambiente distinto, comparações com outras pessoas, presença de discursos de ódio, entre outros.
Além disso, as telas podem prejudicar o desenvolvimento mental das crianças e adolescentes, prejudicar sua concentração e viciá-las nos estímulos rápidos proporcionados pelos dispositivos.
Uma reportagem publicada no G1 aponta que esses estímulos “provocam a liberação de dopamina no cérebro”, e que esse neurotransmissor pode viciar, gerando “um looping altamente perigoso para a saúde”.
🔎 Leia mais: Uso do celular em sala de aula: o que fazer?
Estresse escolar
Outra fonte de problemas de saúde mental é o próprio estresse escolar. Na adolescência, seus alunos estão pensando em universidades, vestibulares, ENEM, etc. E muitos estudantes acabam reagindo negativamente à pressão.
Incertezas sobre o futuro
Vivemos uma era de incertezas e tensões mundiais. Seja pelas rápidas transformações no palco político, seja pelo crescimento de discursos de ódio, seja pelo colapso climático, muitos adolescentes estão com medo do futuro, e isso gera um sério prejuízo à sua saúde mental.
Dificuldades familiares
A vida familiar também tem seus problemas para a saúde mental dos alunos. A relação com pais, mães e/ou responsáveis nem sempre é positiva, e pode ser a origem de vários problemas, desde ansiedade até depressão.
“Cicatrizes” da pandemia
A pandemia de covid-19 marcou a sociedade. Ainda sofremos com o impacto desse período em vários sentidos, incluindo o luto por entes queridos e o impacto econômico, por exemplo.
Além disso, muitos dos alunos de hoje tiveram que lidar com o isolamento social durante uma época importante em sua formação. Isso acaba afetando a forma com que eles se desenvolvem e pode deixar uma ferida na saúde mental.
Como cuidar da saúde mental dos alunos? Veja 10 dicas
A partir do entendimento dos principais desafios para a saúde mental na escola, podemos partir para estratégias para melhorar esse quadro.
Preparamos aqui 10 dicas que podem ajudar muito, mas essa lista não é exclusiva ou exaustiva. Busque junto com sua comunidade escolar o que faz mais sentido para você e trabalhe em grupo para cuidar da saúde mental dos seus alunos.
1. Criar uma política de portas abertas
Muitas vezes, o que os alunos mais precisam é de alguém que os ouça. Então prepare sua gestão pedagógica para fazer isso.
Por meio de uma política de portas abertas, você mostra que sua equipe está sempre pronta para ouvir e ajudar os estudantes. Essa disponibilidade dá uma sensação de segurança e acolhimento, que é essencial para a saúde mental.
Além disso, ouvir seus alunos é uma excelente forma de entender o que eles estão passando e prevenir problemas maiores, como suicídio e violência no ambiente escolar.
2. Incentivar a inclusão e a diversidade
Como já vimos, a exclusão é uma das principais fontes de problemas de saúde mental. Por isso, promova o contrário, estimulando seus alunos a respeitarem e valorizarem a diversidade.
🔎 Leia mais: Como sua escola pode ser mais diversa e inclusiva?
Compreender os próprios sentimentos pode ser desafiador em qualquer idade, mas é ainda mais difícil durante a infância e a adolescência.
Para ajudar seus alunos a lidarem com suas próprias emoções, busque desenvolver as habilidades socioemocionais deles. Isso vai fazer toda a diferença.
As famílias precisam ser os primeiros aliados da escola para cuidar da saúde mental dos alunos. Então busque envolver pais e responsáveis — e não apenas quando a criança demonstra algum problema.
Realizar reuniões, seminários e atividades com as famílias vai ajudar até a prevenir situações difíceis, além de reforçar os laços que serão necessários na hora de enfrentar um possível problema.
Saúde mental não pode ser um tabu! Pelo contrário, o tema deve ser discutido em sala de aula. Esse tipo de ação vai proporcionar aos alunos mais conhecimento sobre seus próprios problemas, e sobre a situação dos colegas.
O tema da saúde mental na escola deve ir além da sala de aula, contando também com seminários, palestras e atividades temáticas.
Ao dar aos alunos a oportunidade de desenvolverem projetos sobre saúde mental, você potencializa o conhecimento deles a respeito do tema.
Lidar com a saúde mental dos alunos é algo muito desafiador. Por isso, é essencial capacitar sua equipe pedagógica com cursos, seminários e outras atividades.
Sempre que possível, evite deixar situações muito desafiadoras para professores e pedagogos que não tenham essa capacitação. Isso pode acabar piorando o caso, tanto para a criança quanto para o adulto.
Às vezes, a política de portas abertas não é o suficiente para atender às tensões sociais de seus estudantes. Por isso, monte grupos e coletivos que acolham seus alunos de forma ativa e proporcionem espaços em que eles possam se expressar.
A equipe pedagógica passa muitas horas com os alunos, e tem a oportunidade de identificar com mais facilidade se há algum problema de saúde mental entre eles.
Finalmente, a última dica é um exercício de humildade. Por mais capacitada que sua equipe seja, nem sempre ela vai ser capaz de lidar com todos os problemas de saúde mental de seus alunos.
Por isso, tenha parcerias com psicólogos e psiquiatras, que possam oferecer ajuda especializada quando a situação exigir.
Lembre-se que essas dicas não são gravadas em pedra e podem ser adaptadas para as necessidades da sua escola. O objetivo dessa lista é ajudar na saúde mental dos alunos da melhor maneira, por isso, anote cada uma das 10 dicas para trabalhar com a sua equipe:
Cuidar da saúde mental dos alunos pode ser muito desafiador para sua gestão pedagógica — principalmente quando seu time não tem capacitação na área, ou está sobrecarregado de trabalho.
Mas isso não é o suficiente, se eles estiverem com uma carga de trabalho muito grande. Em casos como esses, fica impossível acompanhar a saúde de seus estudantes, porque todos estão com a cabeça cheia com outras demandas.