Os impactos da inteligência artificial na educação já estão presentes, mas para evitar que sejam negativos, sua escola precisa seguir alguns princípios importantes.
A inteligência artificial na educação já é uma realidade. De fato, muitas escolas aplicam algum tipo de ferramenta de IA em sua rotina pedagógica para potencializar a aprendizagem ou mesmo otimizar o trabalho educacional.
Essa tendência faz gestores escolares no mundo todo correrem atrás de tecnologias para levar para suas instituições de ensino. Muitas vezes sem muito estudo antes dessa aplicação.
No entanto, é preciso sempre ter em mente que os benefícios da inteligência artificial na educação também podem ser acompanhados por desvantagens, riscos e impactos negativos na aprendizagem. Principalmente se não houver uma orientação adequada aos professores e alunos.
Um estudo global da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), feito em 2023, aponta que apenas 7% das escolas tinham políticas institucionais ou orientações formais sobre o uso de IA generativa.
Também em 2023, uma pesquisa da organização Center for Democracy and Technology (Centro para Democracia e Tecnologia, em tradução livre), realizada nos EUA, reportou que 81% dos pais acreditavam que orientações para seus filhos usarem IA de forma responsável seria útil. 72% dos alunos tiveram a mesma opinião.
Mas, para poder oferecer esse tipo de orientação, as escolas também precisam entender o potencial da IA na educação, assim como seus riscos para a aprendizagem, para a formação dos alunos e para a sociedade como um todo.
Os benefícios da inteligência artificial na educação
Com os devidos cuidados, a inteligência artificial pode ser uma aliada na sua escola, chegando ao ponto de revolucionar a aprendizagem e modificar toda a rotina pedagógica.
Boas ferramentas de IA, manuseadas por pessoas capacitadas, permitem personalizar o aprendizado, coletar e analisar dados educacionais e automatizar os processos administrativos. E isso é apenas o começo.
Veja uma lista de possíveis funções da inteligência artificial na educação:
- Adaptação dos currículos de acordo com as necessidades personalizadas dos alunos.
- Desenvolvimento de sistemas de tutoria com algoritmos inteligentes para atender as dificuldades dos estudantes de forma personalizada.
- Automatização do processo avaliativo.
- Criação de ambientes de aprendizado imersivos.
- Geração de simulações educativas avançadas em diversos campos de estudo.
- Exploração de novas possibilidades de pesquisa.
🔎 Leia mais: Como a inteligência artificial na educação contribui para o ensino e aprendizagem.
Inteligência artificial na captação e retenção de alunos
O potencial do uso de IA na educação vai além do aprendizado e da gestão escolar. Ela pode revolucionar também sua captação e retenção de alunos.
Em primeiro lugar, essa tecnologia na educação permite personalizar seu marketing educacional, para atingir o público certo de maneira muito mais precisa.
Também é possível automatizar os processos de captação e usar análise de dados educacionais para prever o número de matrículas e personalizar o cuidado com os estudantes.
🔎 Leia mais: Como usar a inteligência artificial na educação para captação e retenção de alunos?
As desvantagens da inteligência artificial na educação
Como podemos perceber, há um futuro brilhante para a educação, caso as ferramentas de IA sejam usadas de forma responsável e realmente capacitada. Mas, ao mesmo tempo, há riscos que podem prejudicar esse futuro e a própria evolução do aprendizado.
Veja os principais pontos em que sua escola deve prestar atenção:
Dependência excessiva da IA
Um dos maiores impactos da inteligência artificial na educação está no desenvolvimento de uma dependência excessiva da tecnologia. As facilidades da IA podem levar alunos — e até mesmo professores — a usá-la para tudo, tornando-se quase incapazes de aprender sem essas ferramentas.
Problemas no desenvolvimento de habilidades essenciais
A dependência das ferramentas de inteligência artificial prejudica a formação e a consolidação de habilidades fundamentais. Entre elas estão a resolução de problemas, a criatividade e o pensamento crítico.
Além disso, o uso excessivo e despreparado da IA estimula repetições e reprodução de textos, sem aprofundamento ou reflexões. O resultado é uma aprendizagem mecânica e superficial.
Perda da interação humana
Ferramentas de inteligência artificial generativa tem a capacidade de simular conversas completas, em um ambiente “confortável”. Isso afasta os alunos da interação humana genuína, que para muitos pode ser desafiadora, principalmente para alunos tímidos.
Esse problema também prejudica a obtenção de habilidades fundamentais, atrapalha o desenvolvimento da vida social e pode deixar essas crianças presas em um viés de confirmação. Afinal, a IA generativa se adapta ao usuário.
Perda do controle humano sobre o ensino
O excesso no uso de IA na educação — seja por alunos, seja por professores — remove o fator humano do processo de ensino e aprendizagem. Isso prejudica os resultados educacionais e a formação dos alunos.
Limitação de viés do algoritmo
A “conversa” de uma inteligência artificial generativa se constrói a partir de bancos de dados da internet, coletados por meio de algoritmos, que correm o risco de cair em vieses presentes na sociedade — ou mesmo programados por seus desenvolvedores.
Esse problema pode reproduzir preconceitos, discriminação, visões de mundo parciais, entre outros problemas.
Presença de informações inverídicas
O fato de ser construída a partir de dados da internet também pode fazer com que as IAs reproduzam informações inverídicas.
O verniz de autoridade fornecido pela ferramenta tem o potencial de fazer alunos despreparados acreditarem em tudo o que a IA diz — internalizando e reproduzindo informações falsas e, muitas vezes, nocivas.
Plágio
Este é um problema que muitos educadores já estão sentindo na pele. Alunos têm usado plataformas de IA para criação de trabalhos completos, o que prejudica seu próprio aprendizado.
Vulnerabilidade de informações confidenciais
Sem a orientação adequada, alunos acabam compartilhando informações excessivas com as plataformas, e isso é um risco sério para sua privacidade e segurança de dados.
🔎 Leia mais: Segurança da informação e LGPD: tudo que sua escola precisa saber.
Boas práticas para o uso de IA na educação
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) divulgou, em 2023 , um guia para o uso de IA generativa na educação e na pesquisa. Já nesse documento, ela previa os impactos da inteligência artificial na educação, mas entendia seu potencial.
Além de propor políticas ao poder público, o documento também apresenta medidas para um uso da IA de forma mais humana, focada em inclusão, diversidade, igualdade e qualidade educacional.
Nesse mesmo sentido, podemos apontar algumas das principais medidas que uma escola pode tomar para usar a inteligência artificial na educação de maneira responsável:
- Capacitar os professores
- Garantir a inclusão de todos os estudantes
- Manter a autonomia dos professores
- Valorizar as ações humanas na educação
- Vetar o uso de IA em determinadas atividades, para evitar a dependência excessiva
- Educar os alunos para um uso responsável e segurança de dados
- Acompanhar o regulamento nacional para uso ético da IA
Além disso, vale a pena seguir princípios básicos para um uso mais efetivo e responsável. Confira:
Sete princípios para lidar com os impactos da inteligência artificial na educação
Um artigo da organização World Economic Forum sobre IA na educação afirma que “com a orientação adequada, o uso de IA na educação pode levar a melhores resultados de aprendizagem, fortalecer a instrução e o bem-estar dos professores e promover a equidade na educação”.
Mas ele aponta também que, “na ausência dessa orientação, no entanto, existe o risco de violações de privacidade, ações disciplinares desiguais e implementação ineficaz de tecnologias de IA no contexto educacional”.
A partir dessa consideração, o artigo apresenta sete princípios para um uso responsável da IA na educação. Confira quais são eles:
1. Propósito: Conectar, de forma explícita, o uso de IA aos objetivos educacionais
Segundo o artigo, o papel da IA na educação deve ser “apoiar e enriquecer a experiência de aprendizagem, promovendo o bem-estar dos alunos e funcionários, além de aprimorar as funções administrativas da escola”.
Para isso, o texto propõe usá-la sempre com propósito. Em vez de proibir as ferramentas ou simplesmente usá-las sem reflexão, a ideia é pensar sobre a sua utilização e vincular de forma clara como a IA pode impactar positivamente a educação.
2. Conformidade: Reafirmar a aderência às políticas existentes
Este ponto envolve manter-se sempre por dentro da legislação em vigor nos quesitos de “política de tecnologia, incluindo privacidade, segurança de dados, segurança dos alunos e propriedade de dados”, além do uso ético das ferramentas.
3. Conhecimento: Promover a alfabetização em IA
Aqui o artigo discute a necessidade de educar alunos, professores e colaboradores para que usem a IA de maneira informada, entendendo suas limitações e potenciais.
“É crucial equipar os indivíduos com o conhecimento e as habilidades para se envolverem de forma responsável com tecnologias de IA. Isso abrange elementos de ciência da computação, ética, psicologia, ciência de dados e muito mais”, afirma o texto.
4. Equilíbrio: Compreender os benefícios do uso de IA na educação, mas também lidar com os riscos
Não se deve demonizar a IA, afinal, um uso responsável e capacitado tem grandes potenciais. Ao mesmo ponto, também não é bom endeusá-la, colocando-a como perfeita ou essencial.
É preciso vê-la como uma ferramenta com grandes oportunidades, mas também com sérias limitações e riscos, que devem ser levados em conta o tempo todo.
5. Integridade: Promover a integridade acadêmica
Este ponto trata de plágio e outros tipos de desonestidade acadêmica, que podem ser potencializados pelo uso indiscriminado da inteligência artificial na educação.
O artigo diz ser importante “enfatizar valores fundamentais como honestidade, confiança, justiça, respeito e responsabilidade” e aponta que “ferramentas de IA podem auxiliar no cruzamento de informações, mas suas limitações devem ser reconhecidas para valorizar a criação autêntica”.
Nesse sentido, ele propõe que os professores sejam claros com os alunos sobre a possibilidade de usar IA nas atividades, dividindo-as em três categorias de acordo com o planejamento da lição e as habilidades a serem desenvolvidas:
- Permissiva: Os alunos podem usar IA livremente.
- Moderada: Ferramentas de IA podem ser aplicadas em momentos específicos, como a geração de ideias iniciais, mas o conteúdo e as conclusões devem ser originais.
- Restrita: O uso de IA é estritamente proibido e toda a produção deve ser original dos alunos.
6. Agência: Manter a tomada de decisão humana
Já abordamos neste texto o risco de a IA remover o controle humano sobre a educação, e este ponto trata especificamente de evitar esse risco.
Para isso, o artigo do World Economic Forum propõe que “qualquer tomada de decisão apoiada por IA deve permitir a intervenção humana e depender de processos de aprovação humana”.
“A IA deve desempenhar um papel consultivo, ampliando, mas não substituindo, as responsabilidades de educadores e administradores”, esclarece o texto.
7. Avaliação: Analisar continuamente o impacto da inteligência artificial na educação
O artigo aponta que “é crucial revisar e atualizar regularmente as diretrizes de IA para garantir que elas atendam às necessidades em constante evolução da comunidade educacional e estejam em conformidade com as leis e tecnologias em constante mudança”.
Ou seja: avalie constantemente os resultados da inteligência artificial em sua escola, com:
- Feedbacks de alunos, pais, responsáveis e professores
- Relatórios dos resultados educacionais
- Acompanhamento da legislação e das discussões sobre uso de IA no mundo
Tudo isso permite que sua escola tenha melhoria contínua nos processos que envolvem a inteligência artificial na educação.
O futuro da tecnologia na educação
Começamos este texto falando sobre como a IA na educação já é uma realidade, mas, como vimos ao longo do artigo, isso não é um motivo para temer pelo futuro das escolas.
🔎 Leia mais: Como será o futuro da educação com a inteligência artificial nas escolas?
A tecnologia na educação muitas vezes pode parecer assustadora, e muitos ainda lembram do impacto que foi a chegada dos smartphones na realidade escolar. Mas, como já aconteceu com os celulares, percebemos que é possível lidar com as inovações de maneira responsável.
A proibição do uso de celulares pessoais em ambiente educacional, por exemplo, mostra esse tipo de cuidado. A lei restringe o smartphone para alunos, mas permite a utilização do aparelho para fins pedagógicos, de saúde e de inclusão.
🔎 Leia mais: Uso do celular em sala de aula: o que fazer?
O mesmo vale para a IA na educação. O uso irrestrito apresenta riscos para a aprendizagem e para o desenvolvimento dos alunos. Mas sua aplicação com capacitação e responsabilidade tem o potencial de transformar tanto o ensino quanto a gestão pedagógica de uma escola.
Carla Helena Lange
Mestra em Letras: Linguagem, Cultura e Sociedade, com ênfase em Literatura, Sociedade e Interartes pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Especialista em Comunicação e Marketing, Liderança e Gestão de Pessoas e em Recursos Humanos. Licenciada em Letras - Português e Inglês e em Pedagogia. Possui experiência na área de educação nos seguintes níveis: Ensino Fundamental II, Ensino Médio, Ensino Técnico e Ensino Superior. Também já atuou no mercado editorial e como autora de materiais didáticos da área de linguagens. Atualmente, é líder do setor de marketing da Sponte, vertical de Educação da Linx, empresa do grupo Stone Co.









