O que é interdisciplinaridade na educação

Trabalhar a interdisciplinaridade na educação permite ampliar o aprendizado e desenvolver o pensamento crítico dos alunos, mas a prática enfrenta desafios.

A ideia da interdisciplinaridade na educação não é nova, mas tem se mostrado cada vez mais relevante no ambiente educacional — principalmente para trabalhar com as novas gerações de alunos e prepará-los para o futuro.

Contudo, por mais reconhecido que esse conceito seja, nem todos os educadores sabem como aplicá-lo de forma efetiva.

Sua equipe entende como integrar educação e interdisciplinaridade? A escola está pronta para oferecer lições cada vez mais integradas?

Continue a leitura e entenda como trabalhar várias formas de conhecimento de forma conjunta pode potencializar os resultados educacionais na sua escola:

O que é interdisciplinaridade na educação?

O biólogo e psicólogo suíço Jean Piaget — um dos teóricos da metodologia construtivista na educação — conceitua a interdisciplinaridade como “o intercâmbio mútuo e a integração recíproca de várias ciências”.

Ou seja: ela é uma forma de educar por meio da integração de diferentes áreas do conhecimento, associando várias disciplinas para a compreensão de uma lição específica.

É importante saber que ela não propõe o fim da separação de disciplinas e vê essa divisão como importante para a construção do conhecimento — mas também percebe pontos de intersecção, onde diferentes disciplinas podem trabalhar em conjunto para melhorar o entendimento de um determinado tema.

Na prática, por meio da interdisciplinaridade na educação, pode-se construir um novo olhar sobre o conhecimento.

Vale lembrar que diferentes abordagens pedagógicas demandam esse tipo de ensino interdisciplinar.

Exemplos de interdisciplinaridade que sua escola pode aplicar

Há várias formas de explorar a interdisciplinaridade na educação. É possível partir de propostas simples, como, em uma aula de Português, aplicar conhecimentos de História para explicar a formação da língua e da gramática atual.

O mesmo vale para discutir Geografia nas aulas de História, quando falamos sobre eventos importantes que aconteceram em lugares diferentes; ou para falar sobre Química ao estudar Astronomia — afinal, há muito o que se discutir sobre as reações químicas que ocorrem no coração de uma estrela.

Mas isso é só o começo. Outra boa ideia é alinhar temas que possam ser explorados por vários professores, em disciplinas diferentes, e especificar um período para trabalhá-los de forma interdisciplinar.

Para dar um exemplo, podemos montar um estudo interdisciplinar sobre o aquecimento global. Veja algumas sugestões:

Em História, falar sobre a revolução industrial e o aumento nas emissões de carbono ao longo do tempo, trabalhando diferentes pontos-chave nesse processo.
Em Geografia, discutir os impactos do aquecimento na vegetação, nos solos, na hidrografia e nas sociedades.
Em Ciências (ou Química), apresentar o que são os gases do efeito estufa e discutir como o aumento nas emissões intensifica esse processo e aquece a Terra.

A interdisciplinaridade na educação também pode ser aplicada por meio de projetos. Na sua aula de Artes, por exemplo, você pode pedir para os alunos montarem projetos artísticos que representem substâncias químicas, ou mostrem grandes momentos da História.

É possível também fazer atividades mais amplas e ambiciosas, como projetos pedagógicos que unam várias disciplinas diferentes. Nesse tipo de tarefa, os professores trabalharão em conjunto para delimitar um tema, estabelecer objetivos e construir cronogramas integrados às suas disciplinas.

Algumas possibilidades são:

Criar um jogo de tabuleiro com regras que envolvem matemática, além de temática histórica.
Produzir um jornal para a escola com diferentes editorias, abrangendo várias disciplinas.
Fazer experiências culinárias, trabalhando reações químicas e frações matemáticas — e até as disciplinas de História e Geografia, com pratos típicos, por exemplo.
Pedir apresentações sobre temas específicos, que envolvam várias disciplinas.

Uma ótima ideia é realizar projetos a respeito de temas discutidos de forma interdisciplinar — como o aquecimento global mencionado acima.

Interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade: qual é a diferença?

Há uma confusão de conceitos quando discutimos interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade. Contudo, a separação é simples.

Interdisciplinaridade, como já vimos, ocorre quando um tema é trabalhado em várias disciplinas de forma integrada. Ou seja, há planejamento e objetivos em comum entre os diferentes professores, além de uma relação para potencializar esse conhecimento entre os alunos.

Multidisciplinaridade, por sua vez, é simplesmente uma forma de descrever o formato escolar tradicional, dividido em várias disciplinas — que não necessariamente dialogam entre si.

E, finalmente, a transdisciplinaridade diz respeito a uma verdadeira transformação no currículo escolar. Em vez da integração proposta pela interdisciplinaridade, haveria uma extinção da separação entre disciplinas. Essa é uma proposta mais desafiadora e raramente abordada nas escolas.

Quais são os benefícios e a importância da interdisciplinaridade na educação?

Em primeiro lugar, a interdisciplinaridade na educação promove um aprendizado mais significativo para os alunos, incentivando profundamente o seu engajamento. Afinal, eles entendem de forma mais ampla o que estão aprendendo.

As frações matemáticas, por exemplo, deixam de ser apenas números usados nas lições de matemática. Ao verem elas em outras disciplinas, aplicadas de maneira prática, os alunos entendem que elas fazem parte de suas vidas — seja para fazer uma receita, seja para calcular a lucratividade de uma empresa.

O mesmo vale para as reações químicas, que podem ir além das aulas de Ciências. Ou mesmo datas importantes, que deixam de ser apenas eventos da aula de História e passam a ser elementos importantes para a construção do mundo em que nós vivemos.

O aprendizado interdisciplinar também ajuda a superar a concepção fragmentária do aprendizado. Por mais que as escolas estejam divididas em disciplinas, o conhecimento é único e permeia todas elas — e a interdisciplinaridade ajuda a ver isso.

Além disso, lidar com os temas a partir de vários pontos de vista diferentes estimula o pensamento crítico e a criatividade dos alunos, e os ajuda na preparação para o mercado de trabalho e para a vida.

Como a BNCC incentiva a abordagem interdisciplinar na escola

De fato, como já dissemos anteriormente, a interdisciplinaridade não é uma novidade para a educação brasileira, e ela é claramente abordada na Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Entre ações sugeridas ainda na introdução da BNCC, está:

“Decidir sobre formas de organização interdisciplinar dos componentes curriculares e fortalecer a competência pedagógica das equipes escolares para adotar estratégias mais dinâmicas, interativas e colaborativas em relação à gestão do ensino e da aprendizagem”. (BRASIL, 2018, p.16)

A abordagem interdisciplinar volta a aparecer nas unidades temáticas de Inglês e de Matemática, fortalecendo o estímulo da BNCC a um estudo mais integrado e potencializado.

Como superar barreiras e integrar educação e interdisciplinaridade na sua escola?

Junto aos muitos benefícios da interdisciplinaridade, há também desafios. Afinal, por mais que ela não seja uma ruptura ao modo tradicional de ensinar, ela gera demandas diferenciadas, para as quais nem todo educador está preparado.

Confira os principais desafios:

Resistência docente

Muitos professores não estão abertos para esse tipo de trabalho integrado, e outros simplesmente não estão preparados para ele. Para resolver essa dificuldade, há duas estratégias principais:

Motivar a formação continuada dos professores, para que eles sintam-se preparados e motivados para implantar um ensino mais integrado e interdisciplinar.
Valorizar seus educadores, de forma que eles percebam sua própria importância para garantir um aprendizado de qualidade para tantas crianças e adolescentes.

Rigidez curricular

Para aplicar o conceito de interdisciplinaridade na educação, é fundamental ter flexibilidade nas próprias disciplinas, de forma que elas possam “funcionar” em conjunto. E um currículo engessado não permite fazer isso.

A solução aqui é um pouco mais complexa, mas vale a pena. Reúna sua equipe, converse com a comunidade escolar e busque reformular o currículo para que ele seja capaz de abranger tanto a interdisciplinaridade quanto a aplicação de metodologias modernas, ativas e flexíveis.

Falta de tempo na gestão escolar

Esbarramos finalmente em uma das maiores barreiras não apenas para a interdisciplinaridade, mas também para a aplicação de novas metodologias, para a formação continuada e para muito mais: a falta de tempo na gestão.

Em muitas escolas, o dia a dia é uma correria constante. É preciso lidar com a comunidade escolar, garantir a manutenção da escola, comprar materiais e suprimentos, cobrar mensalidades, organizar toda a burocracia da secretaria e, é claro, cuidar do bem-estar e da aprendizagem dos alunos.

Com tudo isso, quando é que você vai poder dedicar tempo para flexibilizar o currículo, criar projetos e integrar suas disciplinas?

O primeiro ponto para superar esse desafio é contar com sua equipe docente. Os professores devem ter um papel central para promover o tema dentro da escola, então tente incentivá-los a buscar soluções, integrar lições e desenvolver projetos em conjunto.

Mas lembre-se de que, muitas vezes, os professores também estão sobrecarregados. Então busque ajudá-los.

Como ajudar professores e otimizar sua gestão?

Além de oferecer possibilidades para a formação continuada e colocar sua gestão para apoiar as iniciativas de interdisciplinaridade, busque também disponibilizar ferramentas para facilitar o dia a dia dos educadores.

Tecnologias educacionais hoje vão desde recursos que permitem a criação de aulas interativas até programas que otimizam a organização das lições e o registro de presenças e notas.

E aqui há também uma possibilidade para sua própria gestão “desafogar” seu dia a dia burocrático e poder investir mais tempo em melhorias educacionais. Com um sistema como o Sponte, você pode economizar até 170 horas mensais no trabalho administrativo e pedagógico.

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Carla Helena Lange

Mestra em Letras: Linguagem, Cultura e Sociedade, com ênfase em Literatura, Sociedade e Interartes pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Especialista em Comunicação e Marketing, Liderança e Gestão de Pessoas e em Recursos Humanos. Licenciada em Letras - Português e Inglês e em Pedagogia. Possui experiência na área de educação nos seguintes níveis: Ensino Fundamental II, Ensino Médio, Ensino Técnico e Ensino Superior. Também já atuou no mercado editorial e como autora de materiais didáticos da área de linguagens. Atualmente, é líder do setor de marketing da Sponte, vertical de Educação da Linx, empresa do grupo Stone Co.

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