A pedagogia de Freinet propõe métodos de aprendizagem ativa em uma escola centrada na criança, que é vista como parte de uma comunidade.
A pedagogia Freinet está entre as principais metodologias educacionais alternativas que sua escola pode adotar. Vista como uma pedagogia popular, ela se baseia em práticas ativas e cooperativas, que se desvinculam do ensino tradicional e estimulam o prazer de aprender.
Nascida em meio a um movimento por escolas mais democráticas, a educação Freinet teve um impacto grande no ensino comunitário e seus ensinamentos ainda podem ser muito úteis hoje — seja como uma metodologia completa, seja como um exemplo de práticas que sua escola pode adaptar.
Para entender como funciona essa metodologia educacional, conhecer sua história e saber se ela é a ideal para sua escola, continue a leitura:
O elemento central do método Freinet se assemelha ao das outras metodologias educacionais alternativas: ele se propõe a evitar a aprendizagem passiva, em que o aluno deve apenas absorver o ensino oferecido pelo professor.
Em vez disso, ele defende uma verdadeira aprendizagem ativa, baseada na experimentação e documentação, em uma prática educacional centrada na criança. Tornando seu aluno o verdadeiro protagonista da própria formação.
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Apesar de ter esse elemento em comum com outras pedagogias, como a metodologia Reggio Emilia, a educação Freinet tem propriedades que são únicas.
Em primeiro lugar, ela parte da proposta de uma escola popular e democrática. Por isso, tem um esforço grande em evitar imposições de autoridade no ensino — seja em sala de aula, seja na própria gestão escolar. Além disso, os alunos têm sua própria voz na condução das atividades.
Entre os eixos da pedagogia Freinet também está a inserção de experiências reais no contexto educacional — inclusive com trabalhos manuais.
O próprio Celéstin Freinet, educador francês que originou a metodologia, dizia que a educação deveria proporcionar ao aluno a realização de um trabalho real.
Tudo isso, busca compor uma escola com cooperação social e construção comunitária do conhecimento — inclusive com a correspondência com outras escolas. Assim, o objetivo é formar adultos ativos, responsáveis pela transformação da sociedade.
Afinal, a metodologia não se resume a aplicar práticas educacionais ativas ou modernas. Esses elementos — na pedagogia Freinet — devem ter um objetivo: despertar nas crianças a consciência social de onde estão inseridas, de qual sua função na história e de como elas podem transformar a sociedade com colaboração e autonomia.
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Agora que você conhece os princípios básicos da pedagogia Freinet, podemos expandir esse conhecimento por meio de quatro eixos fundamentais para a metodologia.
A pedagogia de Freinet propõe que o conhecimento deve ser construído comunitariamente. Esse aprendizado também deve ser transmitido para toda a formação do estudante, para que ele seja mais participante na sociedade.
O conhecimento, no método Freinet, deve ser formalizado, transmitido e divulgado por meio da comunicação. Além disso, este eixo defende que os alunos devem ter livre expressão no ambiente escolar — assim como na sociedade fora da escola.
Outra prática importante neste contexto é a correspondência interescolar. Os alunos, no método Freinet, são incentivados a compartilhar suas experiências com alunos de outras instituições, por meio de correspondências.
Uma das práticas pedagógicas criadas na educação Freinet é o Livro da Vida: um diário em que os estudantes registram suas experiências e descobertas.
Essa documentação é fundamental tanto para que os alunos reflitam sobre seu próprio aprendizado quanto para que eles o compartilhem com os colegas.
A afetividade é vista como um elemento essencial para o desenvolvimento integral e para a cooperação verdadeira.
Essa construção de vínculos também é importante para a criação de um ambiente que seja acolhedor para todos, e que estimule a aprendizagem.
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Dentro da pedagogia de Freinet, o professor tem uma função muito importante — mas que se afasta da posição de autoridade absoluta presente na educação tradicional.
Em vez de dominar a sala de aula e expor conhecimentos, ele deve proporcionar aos alunos situações que os estimulem a agir, explorando o próprio conhecimento e aprendendo — como protagonistas no ambiente educacional.
Ele também deve ser um mediador desse processo, ajudando a guiar os alunos em lições mais democráticas, colaborativas e participativas, sempre com contato com a realidade social no entorno da escola.
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Para aplicar de forma plena as propostas de Celéstin Freinet na educação, é preciso também entender quem foi esse educador tão importante para sua época.
Freinet nasceu em 1896, no sul da França, em uma família de oito filhos, e foi educado em uma escola tradicional — uma experiência que foi profundamente frustrante para o jovem.
Em 1915, enquanto cursava o magistério, ele foi recrutado para lutar na Primeira Guerra Mundial, e voltou do combate com uma séria lesão pulmonar. Já em 1920, tornou-se professor e começou a desenvolver seus métodos educacionais — revolucionários para a época.
O educador levava para dentro da sala de aula conceitos sociais importantes, como a integração da educação com o ambiente político e social ao redor da escola, a defesa da democracia e a busca pela formação de uma sociedade mais cooperativa.
Essas práticas levaram Freinet a abrir uma cooperativa com professores de sua aldeia, em 1924 — uma ação que deu início ao movimento da Escola Moderna na França. Mas a divergência com a política educacional tradicional do país acabou levando à sua demissão, em 1935.
Na mesma época, o educador abriu a própria escola, ao lado da esposa, Élise — uma escola que se tornou vastamente conhecida e serviu de inspiração para o movimento conhecido como Reforma do Ensino Francês.
Em 1940, com a invasão da França pelas forças nazistas, no início da Segunda Guerra Mundial, Freinet acabou preso e enviado a um campo de concentração. Depois de muito esforço da esposa, foi libertado — e seguiu lutando pela liberdade da França e, principalmente, pela educação.
O educador faleceu em 1966, mas suas ideias perduraram e se expandiram pelo mundo todo, seja pela metodologia Freinet, seja pelos conceitos de Escola Moderna, adaptados em diferentes práticas educacionais.
A aplicação dos métodos de Freinet na educação tem um potencial realmente transformador em uma escola. Entre as principais possibilidades estão:
Ao inverter a ordem da sala de aula, dando protagonismo aos alunos, a pedagogia de Freinet os estimula a serem mais independentes e autônomos — uma importante lição para a vida toda.
O método incentiva que o aluno seja livre para se expressar — inclusive artisticamente, em diferentes áreas. Isso gera uma sensação de acolhimento e de participatividade, além de estimular o respeito às diferenças.
Ao incentivar a expressão dos alunos e ter a comunicação como um de seus eixos principais, a pedagogia de Freinet ajuda os estudantes na sociabilidade e a sentirem-se mais à vontade com outras pessoas. Essas são importantes competências socioemocionais para desenvolver na escola.
As práticas pedagógicas de Freinet ajudam os alunos a explorarem sua própria criatividade e desenvolverem uma visão mais crítica — e fundamentada — da realidade que os cerca.
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O trabalho em equipe está no coração da pedagogia de Freinet, e é um de seus maiores trunfos. Crianças formadas com essa metodologia podem viver melhor em comunidade e ajudar a construir um futuro mais unido.
Manter o engajamento dos estudantes é um dos maiores desafios na educação atualmente. Mas, ao aplicar pedagogias ativas, atividades vinculadas à realidade deles e ainda potencializar a afetividade no ambiente escolar, os resultados são ótimos.
A aprendizagem preconizada pela pedagogia Freinet forma adultos realmente preparados — não apenas para serem mão de obra no mercado de trabalho, mas para serem verdadeiros membros críticos da sociedade.
Por meio da aprendizagem pelo trabalho — uma das práticas propostas pelo método — eles aprendem como agir no mundo real. Além disso, a própria metodologia dá a eles habilidades essenciais, como autonomia, responsabilidade e senso de cooperação.