Letramento e alfabetização não são a mesma coisa, mas se complementam e devem fazer parte da Educação Infantil e do Ensino Fundamental.
Quando as crianças estão começando a conhecer o mundo, a escola ocupa o importante papel de guiar esse processo com brincadeiras, experiências, exploração e, é claro, letramento e alfabetização.
De fato, letramento e alfabetização estão entre as atividades mais centrais desse período letivo, mas ainda há confusão sobre o que elas realmente significam — e qual é a diferença entre cada um desses elementos do ensino.
Por isso, neste artigo, vamos falar sobre as diferenças entre alfabetização e letramento, sobre a importância dessas etapas e sobre práticas poderosas para fazê-las ainda mais efetivas em sua escola.
Continue a leitura e confira:
A primeira questão que precisamos abordar é a confusão entre alfabetização e letramento. Apesar de serem semelhantes, esses conceitos não significam a mesma coisa.
Na verdade, eles são complementares um ao outro e devem ser trabalhados paralelamente no Ensino Fundamental, e até na Educação Infantil. Entenda as diferenças:
Entre os dois, este é o conceito mais básico. Na prática, a alfabetização é o processo de ensinar seus alunos a ler e a escrever.
Isso envolve apresentar para as crianças nosso sistema alfabético, demonstrando para elas como decodificar as letras, formar sílabas, construir palavras e, finalmente, expressar ideias por meio da escrita.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aborda esse conceito, destacando que “alfabetizar é trabalhar com a apropriação pelo aluno da ortografia do português do Brasil escrito”.
Ela ainda indica o caminho para chegar nesse objetivo, baseando-se em pesquisas sobre a construção da língua escrita pela criança. Os passos apresentados pela BNCC são:
A partir disso, o documento aponta que as crianças devem desenvolver as seguintes habilidades:
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A BNCC ainda aponta que as bases para esse processo devem ser construídas nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental.
“Nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental, a ação pedagógica deve ter como foco a alfabetização, a fim de garantir amplas oportunidades para que os alunos se apropriem do sistema de escrita alfabética de modo articulado ao desenvolvimento de outras habilidades de leitura e de escrita e ao seu envolvimento em práticas diversificadas de letramentos”.
E, como é possível compreender deste último trecho, a alfabetização é a base para o letramento. Então agora é hora de entrar nesse conceito.
Enquanto a alfabetização é o aprendizado de ler e escrever, o letramento é um passo a mais: é a aplicação desse conhecimento ao contexto social e prático que envolve a leitura e a escrita.
Ou seja, ela vai além da codificação e decodificação de palavras, entrando na compreensão de seus significados — tanto evidentes quanto subjacentes — e na reflexão do uso da linguagem para comunicação em diferentes contextos.
Na prática, o letramento é o aprendizado de como usar linguagens para a comunicação de maneira plena, em diferentes dimensões da vida social. Nas palavras da BNCC, é o letramento — ou os diferentes letramentos — que possibilitam aos alunos “a participação significativa e crítica nas diversas práticas sociais permeadas/constituídas pela oralidade, pela escrita e por outras linguagens”.
Nesse sentido, o letramento proporciona habilidades como:
E vale acrescentar que o letramento não se limita à linguagem escrita. De fato, ele é mais conectado a essa área e é nela que vamos focar neste artigo. No entanto, é possível discutir novos letramentos e multiletramentos, como apresentados pela BNCC.
O documento deixa claro que é importante aos alunos “apropriar-se das linguagens da cultura digital, dos novos letramentos e dos multiletramentos para explorar e produzir conteúdos em diversas mídias, ampliando as possibilidades de acesso à ciência, à tecnologia, à cultura e ao trabalho”.
Entenda esses conceitos:
Segundo a BNCC, “as práticas de leitura e produção de textos que são construídos a partir de diferentes linguagens ou semioses são consideradas práticas de multiletramentos”. Ou seja, “exigem letramentos em diversas linguagens, como as visuais, as sonoras, as verbais e as corporais”.
Na prática, é possível trabalhar o letramento em vídeo, artes, ciências, matemática, entre muitas outras. Basicamente, isso significa compreender e interpretar contextos e saber trabalhar de maneira criativa e inteligente essas diferentes áreas.
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Segundo a BNCC, “os novos letramentos remetem a um conjunto de práticas específicas da mídia digital que operam a partir de uma nova mentalidade, regida por uma ética diferente”.
São, na prática, letramentos conectados ao mundo digital, como o uso de redes sociais e outros ambientes online, assim como a utilização de equipamentos tecnológicos.
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A alfabetização é um dos primeiros passos para a integração social de uma criança, e é fundamental para o desenvolvimento de suas habilidades — tanto cognitivas quanto sociais.
Ela também abre as portas para o aprendizado. Afinal, o aluno precisa saber ler e escrever para aprender as demais disciplinas, do português à matemática. Por isso, a alfabetização deve fazer parte da rotina desde a Educação Infantil, ganhando mais destaque nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental, como destaca a BNCC:
“Nos dois primeiros anos desse segmento, o processo de alfabetização deve ser o foco da ação pedagógica. Afinal, aprender a ler e escrever oferece aos estudantes algo novo e surpreendente: amplia suas possibilidades de construir conhecimentos nos diferentes componentes, por sua inserção na cultura letrada, e de participar com maior autonomia e protagonismo na vida social.”
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Já o letramento tem a importantíssima função de levar a alfabetização ao próximo nível. Ele ajuda os alunos a aplicarem os conhecimentos da alfabetização para “lerem” seus próprios mundos e atuarem dentro deles.
Por meio do letramento, a criança pode interagir com mais liberdade com as pessoas, além de refletir, questionar e argumentar sobre o ambiente que a cerca.
Fortalecer a alfabetização e o letramento deve sempre ser um objetivo da escola, e envolve várias práticas que sua gestão pedagógica pode aplicar. Veja algumas das principais:
A leitura está na alma do letramento e da alfabetização — e não apenas o processo formal de ler para estudar, mas também a leitura por prazer.
Por isso, busque fazer atividades lúdicas que estimulem esse processo, inclua tempo para a leitura entre as aulas, apresente diferentes gêneros literários e proporcione momentos para que os alunos discutam o que estão lendo.
Proporcionar boas experiência conectadas à leitura é uma forma excelente de fazer isso, mas também é importante incentivar esse costume em casa, envolvendo a família.
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Ler em sala de aula também é uma boa estratégia, e fazer essa leitura em voz alta ajuda os alunos a se soltarem, praticarem a dicção e explorarem o potencial da linguagem.
Os professores são a linha de frente da alfabetização e do letramento. Por isso, incentive a formação continuada para que eles possam levar para a escola novas metodologias e boas práticas para explorar essa aprendizagem com os alunos.
Escrever também é fundamental, tanto para a alfabetização quanto para o letramento. Então busque promover exercícios de escrita que envolvam os alunos em situações reais, assim como atividades que promovam comunicação. Alguns exemplos são criação de cartazes e troca de histórias.
Como vimos, o letramento vai além de ler e escrever, atingindo outras áreas — inclusive com o letramento digital.
Nesse cenário, é importante trabalhar outras mídias, como vídeos e postagens de redes sociais, por exemplo.
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A BNCC sinaliza:
“Não se trata de deixar de privilegiar o escrito/impresso nem de deixar de considerar gêneros e práticas consagrados pela escola, tais como notícia, reportagem, entrevista, artigo de opinião, charge, tirinha, crônica, conto, verbete de enciclopédia, artigo de divulgação científica etc., próprios do letramento da letra e do impresso, mas de contemplar também os novos letramentos, essencialmente digitais.”